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O filme que o Brasil não pode fazer

Fran Borges


Eu li em uma crítica que esse era o filme que o Brasil não pôde fazer e foi esse sentimento, mais do que qualquer outro, que me fez chorar ao final do filme.




No feriado de carnaval assisti a dois filmes muito diferentes e ao mesmo tempo que falam da mesma coisa. Encontrei uma interligação nessas duas histórias. Uma alemã e a outra argentina e aparentemente sem qualquer relação.


O filme alemão Nada de Novo no Front que já ganhou vários prêmios e está indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro e melhor filme fala do início e fim da primeira guerra mundial pelo ponto de vista de um jovem soldado alemão e seus amigos iludidos com um discurso vazio de patriotismo e glória, e quando ele se depara com a realidade brutal da guerra vai aos poucos perdendo sua humanidade. Conforme o tempo vai passando ele se torna um zumbi, ele já não sente mais nada.



O filme é uma adaptação do livro de mesmo nome do escritor alemão Erich Maria Remarque, ele mesmo esteve na guerra. Seu livro é radicalmente pacifista, assim como o filme. O filme nos mostra que não há honra ou glória, apenas morte e horror. Cidades, famílias e jovens destruídos pela guerra e suas consequências, dentre elas, a fome.


Esses jovens eram sapateiros, açougueiros, estudantes e mal sabiam segurar uma arma. Enquanto isso “os senhores da guerra” em seus ternos e uniformes lustrados, bem alimentados e decidindo o futuro de uma guerra sem razão, vendo a tudo isso como números para glória e poder pessoal. Não há heróis, apenas sobreviventes.


Argentina 1985 foi o segundo filme que assisti, também está indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro e já é ganhador de diversos prêmios. Baseado em fatos reais ele conta a história dos promotores Julio Strassera e Luis Moreno Ocampo que ousaram investigar e processar o alto comando das forças armadas responsável por uma das ditaduras mais sangrentas da América Latina.




Como espectadores acompanhamos os detalhes do processo, o risco que eles estavam correndo, bem como suas relações pessoais e como tudo aquilo afetou a sociedade da época. Os relatos das torturas são muito fortes, como não poderia deixar de ser, mas o filme tem ao mesmo tempo esse humor do dia a dia desses personagens que é uma característica muito latina de ser.


Eu li em uma crítica que esse era o filme que o Brasil não pôde fazer e foi esse sentimento, mais do que qualquer outro, que me fez chorar ao final do filme. Aquela pergunta “e se?”. E se tivéssemos criado a memória, revisto esse passado tão doloroso, não apenas da ditadura brasileira, mas também, a escravidão e o genocídio indígena. No Brasil sempre se realizou acordos, conciliações e a memória se perdeu.


E a questão que deixei no início desse texto: qual a ligação entre esses dois filmes? Nada de Novo no Front mostra o grande erro da primeira guerra e como ela já é o estopim para a segunda guerra, depois disso a guerra fria que culmina em todas as ditaduras militares da américa latina e hoje ainda reverbera na guerra entre Rússia e Ucrânia. As disputas de um sistema falido que para se manter de pé não se importa em criar guerras, sejam elas bélicas ou sufocando vários países e os levando a crises humanitárias, miséria e fome.


Grandes filmes.


 




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