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Dos Buracos no Peito e Pertencimento

Lu Days


A infância grita em nós a cada página virada. Nós somos o garoto. Nós somos a violência. Nós somos a consequência. E tudo dentro desse quadrinho é dolorido na alma.


A encantadora obra Bully Bully é um quadrinho mudo nacional de Yuri Moraes e Bruno Guma. Editado e distribuído pela Darkside books no selo Darkside Graphic Novels da caveirinha. E é de dar orgulho hein.


O realismo mágico que encontramos nas páginas silenciosas do quadrinho nos aproxima mais do personagem e de nós mesmos. É uma viagem pelas consequências das pequenas e grandes violências que sofremos durante a vida toda, desde a infância, em três atos.


Sendo assim divido, na primeira parte acompanhamos o protagonista ainda na infância vivendo seus dias escolares. Acontecimentos acabam numa briga com facas no final da aula. Momento crucial para o distanciamento do protagonista de um personagem que ele amava muito.


A segunda parte já se inicia com um distanciamento também. Só que dessa vez o protagonista já é um jovem adulto. Uma das coisas que mais gostei nessa parte da narrativa foi a maneira brutal como as redes sociais são retratadas nesse distanciamento afetivo. Essa é a minha parte preferida também, pois vai acompanhar o vazio e a solidão do personagem e como ele é preenchido com a arte, mesmo a vida o decepcionando.


A última parte traz o personagem adulto e casado, repetindo uma rotina sem descanso. O básico sempre a mesma coisa. Essa parte vai tocar em assuntos como o preconceito e o julgamento da sociedade. É terrivelmente lindo a maneira como o pobre do protagonista sofre até enfim encontrar pertencimento, dentro de uma realidade bem diferente da rotina que ele costumava repetir no começo.


Uma das coisas que mais amo é que cada divisão das três partes se inicia com uma fotografia simbólica do protagonista. Essa simples foto nos situa dos acontecimentos, do que é importante para ele e como a vida está sendo até ali. Eu já falei sobre simplicidade, mas vou repetir, porque é tão inteligente que dá vontade de chorar. Comunica com o leitor, deixa o leitor imaginar e aproxima o leitor desse protagonista tão sofrido.



Não vou negar que fiquei com muita dó do protagonista, que vida traiçoeira, quando ele achava que estava bem, vinha uma rasteira. Mas os conflitos são necessários, não apenas um monte de dor e tristeza só para impactar, é delicado e bruto. Os simbolismos são cheios de significados mesmo sendo bem escancarados, como o buraco que o protagonista tem no peito no momento que se sente vazio. Uma das melhores obras de realismo mágico que eu já li. E o mais importante, é do Brasil.


É uma leitura rápida e a edição é belíssima. Se você está procurando um darkside para chamar de seu, aproveite para comprar (link de compra aqui) esse quadrinho maravilhoso, que nos tira da zona de conforto, e ainda apoia o livro nacional.


 



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