Lu Days
Qual a primeira imagem vem na sua cabeça quando se fala de bruxas?
Qual a primeira imagem vem na sua cabeça quando se fala de bruxas? Para mim é sempre a imagem de mulheres na floresta mexendo com ervas. Acho essa imagem interessante, pois no final da série Agatha All Along (Agatha Desde Sempre no Brasil) foi mais ou menos essa percepção que eu tive da narrativa geral.
No último episódio voltamos no tempo para descobrir a verdadeira história de Nicholas Scratch e A Balada do Caminho das Bruxas. Nicholas foi o filho de Agatha, uma vida criada espontâneamente por ela e que precisou ser devolvida à morte. Rio, a entidade Morte no Universo da Marvel, então apaixonada por Agatha e sua capacidade de destruição resolve ceder quando a bruxa pede mais tempo com o filho.
Seis anos se passam e a Morte volta para buscar Nicholas. Contudo, antes de morrer o garoto foi o responsável por difundir o mito do Caminho das Bruxas, onde desejos se tornam realidade se desafios forem superados, por causa de uma cantiga que a criança compôs com a mãe e costumava cantar em tavernas para enganar outras bruxas que teriam seus poderes roubados e seriam mortas por Agatha.
No penúltimo episódio, Agatha enfrenta seu último desafio no Caminho das Bruxas para tentar reaver seu poderes de volta (tirados pela Scarlet Witch na série Wandavision). Agatha que sempre foi conhecida por matar bruxas e ter propensão ao caos e destruição acabou mostrando ao público que seu verdadeiro poder escondido era a criação espontânea, dando vida a um dente de leão utilizando apenas terra, lágrimas e uma pétala dessa flor.
Quando juntei essas duas peças, entendendo que o Caminho das Bruxas dá aquilo que falta para a pessoa e não aquilo que ela deseja, ficou muito claro que a série se tratava do poder de criação das bruxas. Lembrando que a ferramenta dar o que o personagem precisa e não o que ele quer é essencial para escrever histórias e roteiros profundos, pois questiona o caráter do personagem e o torna mais complexo.
Começamos do começo, a primeira a ser testada pelo Caminho foi Jenifer Kale. Além de bruxa especialista em poções, Jen também era parteira, ou seja, um papel muito importante na criação de uma vida. Foi justamente por causa de um médico que ela perdeu seus poderes.
Alice Wu Gulliver passou a vida toda sendo protegida por um feitiço que sua mãe colocou em uma versão de A Balada do Caminho das Bruxas, então toda vez que algum fã de Lorna Wu ouvisse ou cantasse a música Alice estaria a salvo, foi a criação não apenas de uma música mais de dias de vida para a filha.
Lilia Calderu, por outro lado, viveu perseguida pela visão da morte, o que nos faz lembrar da mensagem de Rio, todos os caminhos levam a morte, tudo o que está vivo inevitavelmente vai morrer. Então, Lilia precisava aceitar que ver a morte era algo natural do seu dom, que não era apenas ver o futuro, mas andar livremente pelo fluxo do tempo, se deslocando entre passado, presente e futuro tudo ao mesmo tempo.
E por último Billy Kaplan que tem o poder de criação. Billy que foi o filho que Wanda Maximoff criou em Wandavision e passou a existir em muitos multiversos em Doutor Estranho: Multiverso da Loucura, conseguiu encontrar um corpo para reencarnar. William Kaplan, o garoto que morreu, divide lugar com a alma de Billy e ambos criaram uma nova vida e também deram vida à imaginação de Nicholas Scratch, realizando o Caminho das bruxas descrito na Balada do Caminho das Bruxas.
A série também retomou o tópico luto que permeou toda a narrativa de Wandavision, agora com Agatha perdendo seu filho. Mais além de perder uma pessoa especial, Wanda e Agatha lamentam pela vida que poderia ter sido vivida se essas pessoas tivessem continuado com elas.
Wanda viveu isso ao criar uma série de TV em que ela e o marido Vision viviam em uma cidade de interior e criavam seus filhos com super poderes. Agatha por ter ganhado seis anos com o filho que deveria ter nascido morto.
Eu gosto muito dessas reflexões e como o roteiro conseguiu mostrar como todas as personagens são complexas e vitais para o caminho da narrativa, porque agora quando eu penso em bruxas, eu penso no poder da criação.
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